O diretor, encenador e artista plástico Robert Wilson, ícone do teatro experimental e das artes visuais contemporâneas, morreu aos 83 anos, na última quinta-feira (31), em Water Mill, Nova York, após uma doença breve e aguda.
A informação foi confirmada por meio das redes sociais e do site oficial do The Watermill Center, centro de criação artística fundado por ele em 1992.
Ver essa foto no Instagram
Conhecido como Bob Wilson, o artista texano redefiniu as possibilidades cênicas nas últimas seis décadas, ao unir teatro, artes plásticas, música e arquitetura em uma obra estética profundamente autoral e inovadora.
Ver essa foto no Instagram
Teatro como arte total
Com formações em arquitetura e artes visuais, Wilson levou ao palco uma linguagem visual única, marcada por estética minimalista, silêncios prolongados, cenografias precisas e movimentos coreografados com rigor plástico. Em suas montagens, os corpos funcionavam como esculturas vivas, e a narrativa, muitas vezes, cedia lugar à experiência sensorial e poética.
Wilson ficou internacionalmente conhecido por obras como Einstein on the Beach (1976), criada em parceria com Philip Glass, que revolucionou a ópera contemporânea ao usar sintetizadores, estrutura não linear e uma duração de mais de quatro horas. Também colaborou com Lou Reed, Tom Waits, David Byrne, Marina Abramovic e Willem Dafoe.
No Brasil, Wilson construiu laços afetivos e criativos duradouros. Trouxe ao país montagens como The Life and Times of Joseph Stalin (1974), que teve o nome alterado para The Life and Times of Dave Clark para escapar da censura da ditadura militar. Em 2016, dirigiu o musical Garrincha: Uma Ópera das Ruas, baseado na biografia de Ruy Castro sobre o jogador. Na encenação, o craque foi retratado como um bailarino mítico de pernas tortas, numa obra que funde poesia e tragédia.
Outros espetáculos apresentados ao público brasileiro incluem A Velha Senhora, A Última Gravação de Krapp, A Ópera dos Três Vinténs e A Dama do Mar, com elenco nacional. Em 2023, Wilson estreou Pessoa, Since I’ve Been Me, inspirado na vida e obra de Fernando Pessoa e encerrado com um dos últimos versos escritos pelo poeta português: “I know not what tomorrow will bring”.
Última exposição
Seu último trabalho em vida foi a exposição Animals, inaugurada no dia 24 de julho, na galeria Winston Wächter Fine Art, em Nova York. A mostra reunia retratos em vídeo de animais como uma pantera negra e um alce, explorando a relação entre luz, silêncio e introspecção sensorial — temas centrais em sua obra.
Wilson deixa um legado inestimável para as artes, tendo desafiado as fronteiras entre teatro, performance, música, literatura e arte visual como poucos em sua geração.