O governo federal deu o primeiro passo para avaliar a viabilidade do Brasil desenvolver seu próprio sistema de geolocalização por satélite, tecnologia estratégica e de altíssima complexidade que hoje é controlada por poucas potências globais.
Um grupo técnico formado por representantes de ministérios, da Aeronáutica, da Agência Espacial Brasileira (AEB), do Inpe e da indústria aeroespacial brasileira terá 180 dias para apresentar um diagnóstico sobre o tema.
O objetivo, segundo a Resolução nº 33, assinada pelo ministro do GSI, Marcos Antonio Amaro dos Santos, é avaliar se o país deve seguir dependendo de sistemas estrangeiros como o GPS (EUA), o Glonass (Rússia), o Galileo (União Europeia) e o BeiDou (China) ou se seria viável e estratégico investir num sistema nacional — global ou regional.
“Vamos entender os prós, contras e gargalos. Desenvolver esse tipo de sistema exige um patamar de investimentos muito maior do que o atual programa espacial brasileiro”, afirmou Rodrigo Leonardi, diretor da AEB.
A discussão ganhou visibilidade após rumores nas redes sociais sobre uma possível restrição do GPS pelos EUA ao Brasil, num cenário de guerra comercial, o que técnicos do setor consideram improvável.
“Não houve nenhum indicativo real de que os EUA restringiriam o GPS. Mesmo que isso ocorresse, existem alternativas. Mas a dependência externa, nesse campo, é um fato”, alertou Leonardi.
Infraestrutura
Embora o GPS e outros sistemas estejam amplamente disponíveis, especialistas destacam que a geolocalização por satélite é considerada uma infraestrutura crítica, essencial para setores como transporte, indústria, defesa, telecomunicações e agricultura.
“O Brasil tem know-how técnico. O problema é o investimento. Se começarmos hoje, o retorno será de longo prazo, exigindo desenvolvimento paralelo de setores como a microeletrônica”, explicou o professor Geovany Borges, da UnB.
Além de segurança estratégica, um sistema nacional poderia estimular a indústria tecnológica nacional, gerando inovação e empregos em setores estratégicos.
Segundo o especialista, a maioria dos celulares e equipamentos modernos já é multiconstelação, ou seja, capaz de captar sinais de vários sistemas simultaneamente. Mesmo assim, Borges defende que o Brasil reduza sua dependência externa em um setor tão sensível.
O relatório do grupo técnico deve ser entregue até o início de 2026, podendo orientar uma política nacional no setor.