Governo Lula avalia que tarifaço de Trump aproxima ainda mais Brasil da China

Governo Lula avalia que tarifaço de Trump aproxima ainda mais Brasil da China

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Gabriel Moura

Divulgação

Publicado em 11/07/2025 às 17:02 / Leia em 4 minutos

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto gerou forte repercussão em Brasília. Segundo o jornal O Globo, a medida deve aprofundar a aproximação política e econômica do Brasil com a China, principal rival geopolítica de Washington.

A decisão, anunciada na última quarta-feira, foi interpretada por autoridades brasileiras como um movimento político, e não meramente econômico. Desde então, não houve novos contatos formais entre representantes dos dois países. O canal de diálogo, aberto em março deste ano, visava preservar exportações de aço e alumínio, já impactadas por tarifas de 25%, além de outros produtos brasileiros agora atingidos por uma taxa adicional de 10%.

Integrantes do governo admitem que a nova rodada de negociações com os EUA será ainda mais difícil, mas reforçam que o Brasil buscará manter um diálogo “minimamente civilizado”.

China ganha espaço
A China, maior parceiro comercial do Brasil, aparece como principal beneficiária da crise diplomática com os EUA. No primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras para o país asiático superaram as importações em quase US$ 12 bilhões, gerando superávit para o Brasil. Com os EUA, o saldo foi negativo em US$ 1,7 bilhão no mesmo período.

Nesta sexta-feira (11), a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, saiu em defesa do Brasil e criticou a medida adotada por Trump. “Tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”, declarou.

Apesar da reação positiva de Pequim, setores da indústria brasileira demonstram preocupação. Enquanto os EUA compram principalmente produtos industrializados do Brasil, a pauta de exportações para a China ainda é concentrada em commodities, como soja e minério de ferro. Empresários temem que a dependência de produtos básicos dificulte a ampliação do comércio de bens com maior valor agregado.

Razões políticas
Para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tarifaço anunciado por Trump tem forte viés político. O republicano tem feito declarações públicas em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chama de alvo de perseguição do Judiciário. Além disso, Trump critica abertamente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que é apontado como possível alvo de sanções, segundo o secretário de Estado americano, Marco Rubio.

Trump também teria citado como justificativa a recente regulamentação de plataformas digitais americanas pelo STF, vista como interferência em interesses privados dos EUA.

Retaliação e OMC
Caso não haja um acordo até o início de agosto, o Brasil deverá retaliar os EUA. O plano é evitar medidas que prejudiquem diretamente a indústria nacional. Entre as alternativas em análise estão a cassação de patentes americanas e o aumento de tributos sobre produtos culturais e de entretenimento.

O governo também avalia recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). No entanto, a entidade está praticamente paralisada desde 2019, quando o próprio Trump boicotou o Órgão de Apelação — instância que julga disputas comerciais. A situação permaneceu inalterada mesmo após o governo de Joe Biden.

Enquanto aguarda os desdobramentos, o Brasil reforça seus vínculos com outras economias e trabalha para ampliar mercados alternativos. Segundo fontes do Itamaraty, a postura atual dos EUA poderá ter efeitos duradouros sobre a estratégia comercial e diplomática do Brasil.

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