Clássico da literatura brasileira e leitura frequente nas escolas do país, “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, foi alvo de críticas da vereadora Jéssica Lemoine (PL), do município de Itapoá (SC). Durante uma sessão na Câmara Municipal, a parlamentar defendeu que o romance de 1937 deveria ser excluído do currículo escolar por, segundo ela, “promover a marginalização infantil e romantizar o estupro e a relação sexual entre adultos e crianças”.
A vereadora também afirmou que a classificação indicativa da obra teria sido propositalmente reduzida para permitir a leitura por estudantes do 7º e 8º ano. No entanto, livros não recebem classificação indicativa no Brasil, apenas filmes, como a adaptação cinematográfica dirigida por Cecília Amado em 2011, recomendada para maiores de 14 anos.
Sem apresentar documentos ou estudos que fundamentassem suas alegações, Lemoine declarou ter sido alertada por pais preocupados. Ela também se referiu a Jorge Amado como “um escritor comunista” e afirmou que sua obra seria usada como instrumento da esquerda para se infiltrar na educação por meio do ensino de literatura. Ainda assim, a vereadora disse que não defende a retirada do livro das bibliotecas municipais, por reconhecer sua presença em vestibulares, mas considera que ele deveria ser destinado apenas ao público adulto. Para ela, a proposta não configura censura.
Publicada em 1937, a obra é um marco do neorrealismo brasileiro e retrata a vida de um grupo de meninos em situação de rua em Salvador. Além de “Capitães da Areia”, Jorge Amado é autor de outros clássicos como “Gabriela, Cravo e Canela” e “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Foi deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro, do qual se desligou em 1956, e é considerado um dos escritores brasileiros mais lidos no mundo. Morreu em 2001, aos 88 anos, e é membro da Academia Brasileira de Letras.