Após ser inaugurada há poucos dias em Recife, a retrospectiva “A olho nu”, a mais completa já dedicada à obra de Vik Muniz, chega em 12 de dezembro a Salvador. A informação foi confirmada ao Alô Alô Bahia pela esposa do artista, Malu Barretto, e marca um retorno afetivo e simbólico do artista à região onde mantém fortes vínculos pessoais e profissionais.
Com mais de 200 trabalhos reunidos, a exposição, que na capital baiana ficará em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-Bahia), percorre toda a trajetória de Vik, dos anos 1980 até produções mais recentes, incluindo 37 séries e, pela primeira vez, a união entre esculturas e fotografias, dois pilares de sua obra. “Essa exposição me deu a chance de explorar a relação entre esses dois lados do meu trabalho, geralmente mostro só as fotos ou só os objetos”, comentou Vik em entrevista ao jornal O Globo.

Obra de Vik Muniz exposta no Instituto Ricardo Brennand, em Recife | Foto: Divulgação
A itinerância da mostra no Nordeste, antes de passar por centros como Rio ou São Paulo, é um gesto intencional de descentralização cultural. Para Vik, também é uma homenagem ao pai, Vicente José, cearense que faleceu em abril e que, segundo o artista, viveu um dos momentos mais felizes da vida ao vê-lo expor em Fortaleza.
“Quando expus em Fortaleza, ele me disse que foi um dos momentos mais felizes da vida dele. Era um cara sem estudo, que foi para o Rio num pau de arara, depois para São Paulo. Ele e minha mãe entraram num museu pela primeira vez para ver uma exposição minha, mas desde o início acreditaram em mim”, relembrou.

‘Action photo, after Hans Namuth’, de 1997, da série Pictures of Chocolate | Foto: Divulgação
O recorte curatorial de Daniel Rangel, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC-BA), traz obras emblemáticas como “Cabo de Guerra II” (1989). A exposição também inclui peças como “Crânio de palhaço” (1989), “O grande livro” (2010) e “Sarcófago tupperware” (2010), além de obras mais recentes, como “Concretismo clássico” (2025).
“Existe um lado elitista do mundo da arte que intimida, parece que se você não entendeu aquilo não é sofisticado o suficiente. Não quero que as pessoas venham para minha exposição para se sentirem burras, minha vontade é que elas achem graça, vejam algo interessante, identifiquem imagens que já viram milhões de vezes, mesmo sem saber exatamente o que é“, afirmou o artista, conhecido por seu humor crítico e por reconstruir imagens do repertório coletivo com materiais inusitados.

Foto: Gleyson Ramos/Divulgação
A passagem da mostra por Salvador tem também um sentido pessoal, já que é onde Vik mantém residência e ateliê, no Santo Antônio Além do Carmo, além da galeria Lugar Comum, na Feira de São Joaquim, na Cidade Baixa. “Eu vinha pouco de Nova York, mais para vê-los, até que numa viagem a Salvador, em 1999, fui descobrindo um Brasil que me pareceu mais autêntico, em que as pessoas não só consumiam a cultura, eram parte da cultura também. Ali senti que precisava estar mais próximo”, contou.