Jogo de baiano inspirado na Guerra de Canudos viraliza no exterior

Jogo de baiano inspirado na Guerra de Canudos viraliza no exterior

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas

Divulgação

Publicado em 18/06/2025 às 10:00 / Leia em 3 minutos

Misturando fantasia, elementos sobrenaturais e um dos episódios mais emblemáticos da história do Brasil, o jogo “Hell Clock” promete impactar o mercado de games a partir de 22 de julho.

Desenvolvido pelo baiano Mark Venturelli, o projeto resgata a história da Guerra de Canudos, ocorrida no sertão da Bahia no final do século XIX, e já chama atenção fora do país.

A trama se passa três anos após o massacre de Canudos. O jogador assume o papel de Pajeú, jagunço que luta para resgatar a alma de Antônio Conselheiro, aprisionada no inferno. Munido de um relógio mágico, ele enfrenta criaturas sobrenaturais e viaja no tempo na tentativa de salvar seu líder.

O game, que soma mais de 72 mil interessados no mundo, é uma criação da Rogue Snail, estúdio comandado por Venturelli, hoje radicado em Brasília. Segundo ele, Canudos segue como uma ferida aberta no Brasil e representa conflitos que ainda atravessam a sociedade, como desigualdade, racismo e choque cultural.

“‘Hell Clock’ fala sobre repetição, sobre como seguimos revivendo os mesmos problemas desde o século XIX”, explica ao g1 o desenvolvedor que atua na indústria há 17 anos. Ele também destaca que criar um jogo com temática brasileira e baiana foi um desafio, tanto pela responsabilidade histórica quanto pela dificuldade de alcançar visibilidade internacional.

Foto: Rogue Snail / Flávio de Barros/Acervo Museu da República

Foto: Rogue Snail / Flávio de Barros/Acervo Museu da República

Apesar disso, os primeiros números são animadores. Nos Estados Unidos, o jogo lidera os downloads da versão de demonstração, seguido pelo Brasil. Na plataforma Steam, onde está disponível para testes gratuitos, “Hell Clock” acumula 96% de avaliações positivas.

Um dos grandes diferenciais é a dublagem feita exclusivamente por artistas nordestinos, todos com sotaque local. Entre eles está Dody Só, que já interpretou Pajeú no filme “Guerra de Canudos” (1997) e retorna ao papel no universo digital. Para garantir a fidelidade histórica, o roteiro teve colaboração do historiador Swami Abdalla-Santos, especialista na história do sertão nordestino.

O projeto começou em 2020, com uma equipe de apenas três pessoas. Hoje, são 13 profissionais envolvidos, após captação de recursos públicos e privados. Embora Venturelli nunca tenha visitado Canudos, o game foi desenvolvido a partir de ampla pesquisa acadêmica, bibliotecas e arquivos digitais.

Além de entretenimento, o desenvolvedor acredita no potencial educativo e reflexivo do jogo. “Nosso objetivo é gerar consciência. A Guerra de Canudos não foi uma guerra entre iguais, foi um genocídio promovido pelo Exército contra seu próprio povo”, pontua.

Foto: Divulgação

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O interesse pelo tema cresceu de forma expressiva. Segundo o Google Trends, a busca por termos como “Canudos”, “Guerra de Canudos” e “Antônio Conselheiro” aumentou 600% na semana do anúncio do jogo.

Fora do Brasil, a repercussão também foi significativa. Durante uma transmissão do influenciador norte-americano Asmongold, o game foi exibido para mais de 50 mil espectadores.

Inicialmente, “Hell Clock” será lançado apenas para computador, com preço estimado de R$ 60 no Brasil e 20 dólares no exterior. No entanto, a Rogue Snail já trabalha para expandir o jogo para celulares e consoles como PlayStation, Xbox e Nintendo Switch, estratégia alinhada ao perfil do público brasileiro, onde 48,8% dos jogadores preferem jogar no celular, segundo a Pesquisa Game Brasil 2024.

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