Djamila Ribeiro fala sobre ancestralidade e racismo durante evento em Salvador: ‘Minha mãe foi apagada’

Djamila Ribeiro fala sobre ancestralidade e racismo durante evento em Salvador: ‘Minha mãe foi apagada’

Redação Alô Alô Bahia

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Divulgação/Paula Fróes

Publicado em 26/05/2025 às 22:48 / Leia em 3 minutos

No palco da 11ª edição do Power Trip Summit, realizado em Salvador, a filósofa e escritora Djamila Ribeiro protagonizou um dos momentos mais marcantes do evento, ao compartilhar reflexões profundas sobre ancestralidade, diáspora africana e os desafios de ocupar espaços de poder enquanto mulher negra no Brasil e no mundo.

Ao lado das escritoras Ana Maria Gonçalves e Nívia Luz, Djamila conduziu uma conversa potente sobre como o deslocamento forçado de africanos moldou a história do Brasil e como isso reverbera até hoje nas estruturas sociais, políticas e culturais do país. A mesa foi mediada por Natacha Cortêz, editora-chefe da Marie Claire, e abriu espaço para relatos pessoais, análises afiadas e provocações que emocionaram a plateia.

Djamila iniciou sua fala destacando o papel das mulheres da sua família na formação da sua consciência racial e política. “Conforme fui ganhando visibilidade, as pessoas diziam que estou onde estou porque tive um pai que me incentivava. Isso começou a me incomodar, porque minha mãe foi apagada aos poucos, e ela fez muito. Me ensinou a não levar desaforo para casa, cuidou de mim, me iniciou no candomblé. Ela tem um espaço central na minha vida”, afirmou. A escritora também destacou a influência da avó materna, benzedeira semianalfabeta, “que sabia tudo e não era passada para trás”.

Ao falar sobre sua trajetória acadêmica, Djamila revelou os desafios e as resistências que enfrenta ao ocupar espaços acadêmicos fora do Brasil. Ela está prestes a assumir um posto no Massachusetts Institute of Technology (MIT), como a primeira brasileira no programa Martin Luther King. “É importante falar isso, porque sou uma escritora de não ficção, e é muito difícil conseguir popularizar esse gênero. Me esforcei muito por isso. As pessoas acham que eu estava apenas em casa e tocou meu telefone. Mas foi tudo muito difícil, um grande desafio, um trabalho intenso”, ressaltou.

Djamila também não poupou críticas à forma como o Brasil e as mulheres negras brasileiras são vistos fora do país. “Eles têm uma imagem estereotipada do que é o Brasil, principalmente das mulheres negras. Já achavam que eu estava disponível sexualmente, são pessoas que não sabem nada do país”, relatou. Ela destacou, inclusive, o choque do público norte-americano ao saber que o Brasil abriga a maior diáspora negra do mundo. “Não tem como pensar a diáspora sem pensar no Brasil”, pontuou.

A filósofa encerrou reforçando a importância de internacionalizar a produção intelectual negra brasileira. “Para chegar nesse mercado, que é duríssimo, precisa ter autoestima. Nós abrimos portas para muitas outras. E é por isso que publico tanta gente, mesmo quem eu não concordo, porque precisamos dessa diversidade de pontos de vista.”

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