A trajetória de Ângela Diniz, assassinada em 1976 pelo então companheiro Doca Street, foi o ponto de partida para um debate sobre violência de gênero, representatividade feminina e os limites do sistema judiciário brasileiro.
O tema foi abordado pela atriz Marjorie Estiano e pela promotora Silvia Chakian durante a 11ª edição do Power Trip Summit, evento realizado em Salvador, pela revista Marie Claire, nesta segunda-feira (26).
Marjorie interpreta Ângela na nova série inspirada no podcast “Praia dos Ossos”, que revisita o caso emblemático marcado pela controversa tese da “legítima defesa da honra”, aceita na época para justificar o feminicídio.
Segundo a atriz, o projeto tem potencial para reacender discussões fundamentais. “Ângela vivia como queria, não aceitava subordinação masculina. Isso, por si só, já foi visto como uma afronta”, afirmou.
Ao lado da atriz, Silvia Chakian ressaltou o impacto do caso no enfrentamento ao machismo estrutural e na mobilização popular que levou à criminalização do feminicídio.
“A morte de mulheres no Brasil está ligada à violação das regras patriarcais. Precisamos continuar nomeando isso como feminicídio para romper com esse ciclo”, destacou a promotora do Ministério Público de São Paulo.

Foto: Paula Fróes
Apesar dos avanços legais e sociais desde os anos 1970, as duas convidadas afirmaram que o cenário ainda impõe desafios. Marjorie comentou a dificuldade de ver mulheres criticando vítimas de assédio. “É o reflexo de uma educação machista”, disse.
Silvia reforçou que a presença feminina em posições de liderança precisa estar alinhada ao compromisso com a pauta de gênero: “Ter mulheres no poder não basta. É preciso garantir que estejam ali com um projeto que enfrente essas desigualdades”.
A importância da arte como instrumento de transformação também foi um ponto central da conversa. Para Marjorie, a representação artística é capaz de ampliar o alcance das reflexões sociais. “A arte tem um papel estratégico na formação da sociedade. Ela não está à margem desses debates”, pontuou.
Ambas apontaram ainda a necessidade de mais diversidade nos bastidores e nos cargos de decisão. Marjorie destacou como se sente mais respeitada em ambientes plurais. Silvia chamou atenção para a lentidão das mudanças institucionais.
“As mulheres abriram caminhos, mas os principais cargos ainda são ocupados por homens. O desafio agora é garantir a permanência e o avanço da próxima geração”, disse.