Morreu na tarde desta segunda-feira (12), aos 76 anos, a Yalorixá Elda Viana, conhecida como Mãe Elda de Oxossi, em Recife. Reconhecida como uma das figuras centrais da espiritualidade afro-brasileira no estado, Mãe Elda foi a última mulher coroada Rainha do Rosário na Igreja do Rosário dos Homens Pretos do Recife, em 1980.
Sua morte marca o encerramento de um ciclo de lideranças femininas negras à frente de uma das irmandades mais emblemáticas da resistência afrodescendente no país.
O velório ocorre ainda nesta segunda, na sede da Nação Porto Rico — terreiro onde Mãe Elda foi liderança espiritual e matriarca. O sepultamento está previsto para terça-feira (13), no final da tarde, no Cemitério de Santo Amaro, também no Recife.
Trajetória
Iniciada no candomblé aos 14 anos, Elda Viana dedicou a vida à religiosidade, à educação e à valorização das tradições negras. Além do trabalho como Yalorixá, atuou como alfabetizadora e conselheira comunitária, sendo referência para mulheres de terreiro, jovens da periferia e militantes da cultura popular. No terreiro, promovia atividades educativas, rodas de diálogo e ações voltadas ao fortalecimento da presença negra nos espaços públicos e culturais da cidade.
Mãe Elda teve atuação destacada junto à Nação do Maracatu Porto Rico, uma das mais tradicionais do maracatu de baque virado em Pernambuco. Sob sua orientação, a agremiação se consolidou como expressão cultural e espiritual, mantendo vivas as tradições de matriz africana.
A Yalorixá acompanhava ensaios, orientava lideranças e cuidava dos rituais ligados à espiritualidade do grupo, compreendendo o maracatu como uma extensão do terreiro e como forma de resistência cultural.
Sua coroação como Rainha do Rosário em 1980 representou um marco simbólico, rompendo barreiras em um espaço historicamente marcado pela exclusão de mulheres negras e pelo racismo religioso. Desde então, nenhuma outra mulher foi coroada na irmandade.