Em depoimento nesta terça-feira (23), o cofundador do Instagram, Kevin Systrom, acusou Mark Zuckerberg de ter limitado o crescimento do aplicativo após sua aquisição pela Meta. A declaração foi dada em um tribunal federal de Washington, durante o julgamento antitruste que pode levar ao desmembramento da empresa de tecnologia.
Convocado como testemunha-chave pela Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC), Systrom afirmou que a Meta não forneceu os recursos necessários para que o Instagram atingisse seu potencial após a compra, em 2012. À época, o aplicativo foi adquirido por US$ 1 bilhão.
Segundo o depoimento, Zuckerberg teria visto o crescimento acelerado do Instagram como uma ameaça direta ao Facebook. “Mark Zuckerberg e Chris Cox acreditavam que o crescimento do Instagram era, em grande parte, o responsável pela queda de usuários ativos diários do Facebook”, afirmou Systrom.
O empresário relatou que a Meta cortou ferramentas fundamentais para o desenvolvimento da plataforma e que a falta de equipe suficiente foi uma das razões para sua saída da empresa, em 2018. Um e-mail escrito por ele em 2017, apresentado à corte, registrava a frustração com a falta de apoio: “Recebemos zero dos 300 funcionários adicionais para vídeo, o que é uma resolução inaceitável e ofensiva”.
A FTC argumenta que a aquisição do Instagram foi parte de uma estratégia da Meta para manter seu monopólio e evitar concorrência interna, tese apoiada por e-mails internos da empresa. Um deles, escrito por Zuckerberg em 2018, sugere que o crescimento do Instagram poderia causar o “colapso da rede” do Facebook.
“Família de aplicativos”
Systrom também criticou a estratégia de Zuckerberg de integrar os sistemas do Instagram, Facebook e WhatsApp sob a ideia de uma “família de aplicativos”. A iniciativa, segundo ele, comprometeu a autonomia do Instagram.
Ele deixou a empresa ao lado do cofundador Mike Krieger em setembro de 2018. A saída seguiu um movimento semelhante de Jan Koum e Brian Acton, fundadores do WhatsApp, que também romperam com a Meta após divergências com Zuckerberg, sobretudo relacionadas à privacidade e uso de dados, após o escândalo da Cambridge Analytica.
Em sua defesa, a Meta declarou: “Documentos de anos atrás e fora de contexto sobre aquisições que foram analisadas pela FTC há mais de dez anos não vão obscurecer as realidades da concorrência que enfrentamos nem suplantar a fraca argumentação da FTC.”
Durante o interrogatório conduzido pelo advogado da Meta, Kevin Huff, a empresa ressaltou que o Instagram foi amplamente beneficiado após a aquisição, ganhando novos recursos, integração com sistemas de publicidade e crescimento de usuários. Systrom reconheceu os benefícios, mas afirmou que as decisões de Zuckerberg estavam carregadas de interesses pessoais.
“Mark estava sempre muito feliz com o crescimento do Instagram, mas também carregava emoções conflitantes por ser o fundador do Facebook”, disse Systrom. Ele também revelou que, em 2018, Zuckerberg chegou a considerar a separação do Instagram da Meta para frear seu crescimento e reter os fundadores.