Virginia Fonseca (26) visitou, na manhã desta quinta-feira, 10, uma clínica especializada em dores de cabeça e enxaqueca para dar continuidade ao tratamento que iniciou no final do ano passado. A apresentadora e influenciadora digital sofre com enxaqueca crônica e, antes de iniciar o tratamento, chegou a dizer que “não vivia um dia sem dor”. E, ao contrário do senso comum, a dor de cabeça não é o único sintoma da condição.
“A enxaqueca impacta a vida das pessoas em diversos aspectos. Além da dor latejante, o paciente fica mais sensível à luz, aos sons e ao barulho, sofre com náuseas e tontura e tem uma piora no sono, na atenção e na memória”, explica o médico da equipe de Virginia, o neurologista Tiago de Paula, especialista em Cefaleia e membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).
Segundo o especialista, a doença é genética, com cerca de 180 loci (locais no código genético) que predispõem à doença. “Existe também uma questão hormonal. Hormônios como o estrogênio influenciam na sensibilidade e prevalência dos sintomas. Por isso, é mais comum em mulheres”, pontua.
Mas Tiago ressalta que os fatores epigenéticos, isto é, do ambiente em que a pessoa está inserida, também possuem um impacto importante na evolução da doença. “Por exemplo, uma pessoa que tem uma vida muito intensa, está sempre exposta a estímulos, sofre com grande estresse e não dorme direto tende a sofrer com crises mais frequentes e mais graves”, ressalta o médico.
“A alimentação também pode favorecer uma piora da enxaqueca, principalmente aqueles alimentos que deixam o cérebro mais acelerado, pois trata-se de uma doença relacionada à hiperexcitabilidade cerebral. Por isso, é recomendado evitar estimulantes, como café, chocolate e energéticos, e termogênicos, incluindo gengibre e pimenta vermelha, por exemplo”, detalha o médico.

Virginia Fonseca
TRATAMENTO
O tratamento da condição vai além do manejo dos gatilhos e cronificadores da enxaqueca, podendo incluir uma série de outras estratégias para melhorar a intensidade da dor e diminuir a frequência das crises. Porém, o neurologista ressalta que os remédios para crises de enxaqueca não tratam o problema.
“Pelo contrário. Os remédios para crises são cronificadores da enxaqueca. Esses medicamentos não tratam a doença de forma efetiva e, quanto mais remédios você toma, menos eles funcionam e mais dor você sente. É um quadro conhecido como cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Além disso, esses remédios podem prejudicar a eficácia dos tratamentos de primeira linha”, alerta o médico.
Na clínica frequentada por Virginia, o tratamento da enxaqueca foca em uma abordagem global e integrada, que visa atuar em todos os aspectos da doença para promover melhora rápida e devolver qualidade de vida ao paciente.
“Além de mudanças na alimentação e no estilo de vida, acompanhadas por nutricionistas e psicólogos, utilizamos tratamentos de primeira linha com evidência cientifica para a condição, como a toxina botulínica, que é aplicada em pontos nervosos específicos para reduzir a sensibilidade do cérebro a dor, ajudando, assim, no controle da enxaqueca”, diz o especialista.
O médico explica que outra opção entre os tratamentos de primeira linha são os medicamentos monoclonais Anti-CGRP, primeiros medicamentos desenvolvidos, do início ao fim, para enxaqueca. “Eles bloqueiam o efeito do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), que contribui para a inflamação e transmissão de dor e está presente em maiores níveis em pacientes com enxaqueca”, detalha o neurologista, acrescentando que em pacientes com enxaqueca crônica, a combinação da toxina botulínica com os anti-CGRPs tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado dessas terapias.
Além disso, sessões de fisioterapia também podem ser indicadas, como no caso da apresentadoraVirginia, que, inclusive, fez uso de um dispositivo de neuroestimulação que ajuda a aliviar as crises de enxaqueca. “Essa tecnologia promove uma estimulação elétrica transcutânea do nervo trigêmeo, diminuindo a transmissão de sinais de dor e reduzindo a excitabilidade cerebral, o que contribui para a redução da intensidade e da frequência das crises”, detalha Tiago de Paula.
Por fim, é importante ressaltar que a enxaqueca crônica não tem cura, mas tem controle. “A avaliação individual é essencial para recomendação do plano de tratamento mais adequado para cada caso. O médico também poderá auxiliar na identificação de gatilhos e fatores cronificadores da doença, o que é fundamental para o controle das crises”, finaliza.