A poucos dias da estreia de Vale-Tudo, a autora Manuela Dias falou sobre o desafio de fazer uma versão da novela de 1989. Além da questão tecnológica, há também mudanças sociais que impactam na trama.
“Penso que são muitas adaptações. Os arcos longos, os personagens, eles estão preservados integralmente. A Maria de Fátima vende a casa da Raquel. A Raquel vem para o Rio de Janeiro. Mas na novela também há valores que se atualizaram. Questões éticas, simbólicas, científicas e tecnológicas. São duas naturezas de adaptação. Eu amo mudar. Quem não muda está perdendo um grande lance“, explica a autora, em entrevista à Marie Claire.
Uma das mudanças é a presença de atores negros em cena. “Se fala muito que Vale Tudo mostrava o Brasil. Com a lente de hoje, será que mostrava? Eram só dois atores negros no elenco. O Brasil naquela época não tinha pessoas negras? Acredito que não só o Brasil mudou, mas nossas lentes e recursos para conseguir ver o Brasil também mudaram”, diz.
Manuela também quer mudar o destino de alguns personagens. “Na novela, tem um casal homossexual, a Cecília e a Laís [que serão vividas pelas atrizes Maeve Jinkings e Lorena Lima]. Naquela época, elas se chamavam de amigas. Hoje, os casais homoafetivos contam com segurança jurídica, direitos. No original, uma delas morre. Eu não vou matar a Cecília. Eu não quero que ela morra. É importante hoje que ela fique viva. Muita coisa mudou e ainda bem. Hoje em dia, se o mocinho dá um tapa numa mulher, acabou, ninguém mais vai gostar dele”, explica.
A baiana diz ainda que vai focar no trabalho, apesar da pressão de escrever uma novela de 21h. “Para mim, o mais importante é focar no trabalho, no processo. Acordar cedo, trabalhar numa cena, outra cena, depois outra. Claro que todo mundo tem ego, eu também tenho e gosto que seja alimentado, mas o recomendado é ser uma dieta restritíssima. Eu dou minha vida para a novela ser bem-sucedida e quero fazer tudo o que estiver ao meu alcance”, afirma.
